E a China? Existe teoria da conspiração? - Por #Joaquim Marques

Autor : ana
Data : Jul 20, 2020

Devemos responsabilizar a China pela crise?

O vírus foi gerado em laboratório, ou nos mercados de rua de Wuhan?
As teorias da conspiração falam de um plano da China para dominar o Ocidente. Será?
Outros perguntam, se existe crime este deve ficar impune?

Vamos às teorias.

Muitos defendem que a China não foi transparente com a Organização Mundial de Saúde (OMS). E outros defendem que para proteger o futuro temos que responsabilizar, hoje, a China. Por um lado, pelo laxismo com que não preveniu a crise. Por outro lado, porque permitiu a exportação do vírus para outros continentes. Ou, mais factualmente, porque permitiu negligencia sanitária associada ao mercado vivo de animais selvagens.

Existem teses que mostram que o regime chinês perdeu semanas com o encobrimento da perigosidade do vírus. Escondendo informações essenciais sobre o contágio fácil do vírus nos humanos.

A principal suspeita vem de um controverso virologista francês, Luc Montagnier, laureado com o prémio Nobel pela pesquisa sobre o HIV. Segundo ele não suscitam duvidas que o vírus saiu de laboratório em Wuhan, e não no mercado vivo da mesma cidade. Esta é a teoria mais grave, que descredibiliza a China. Esta polémica é, justo dizer, que é descabia para outros cientistas. Estes Investigadores classificaram Montagnier “ em estado de decadência acelerada nos últimos anos”.

O que é o fato, é que a China ficou sobre pressão na opinião publica. Por irresponsabilidade ou por ter criado uma “bioarma”.

Outras narrativas, como o Washiton Post , apontam falhas de segurança graves. Fala-se ainda em perseguição a médicos e cientistas. A situação mais grave terá existido quando um oftalmologista de Wuhan terá denunciado o surto e a transmissibilidade do vírus. Mais tarde assinou uma declaração de culpa por perturbar a ordem social! Quando foi reintegrado no trabalho, acabou por morrer pelo contagio da doença. Ora, isto significaria, no mínimo, falta de transparência com a OMS, nesta fase inicial.

Existirá alguma verdade em tudo isto? Julgo que sim! Existirá uma teoria da conspiração da china em relação ao resto do mundo? Julgo que não. Acredito na teoria da conspiração? Não acredito.

A partir de aqui, julgo que muitos vão deixar de ler este texto. Lamento por isso, por não alimentar mais uma polemica. Interessante sim, mas julgo que despropositada, esta teoria da conspiração. Fundamentarei, de uma forma racional!

Obrigado aos continuaram a ler!
Não faremos dos chineses parvos!
Porquê?
Como iria a China, com base nesta pandemia, ser beneficiada? Ou por que iria a China prejudicar os rivais comerciais?! Iria a China produzir um vírus e “exportá-lo” para o Ocidente? Para quê? Para matar os clientes que sustentam a sua economia?!!
Sejamos minimamente razoáveis.
Assim, uma vez que já todas as terias da conspiração foram abordadas, eu vou faze-lo na perspetiva económica.

A China é, hoje, a maior potência exportadora do mundo. Isto quer dizer que a China é a nação do planeta que mais depende do exterior. Numa altura de contração, como esta, precisa ainda mais dos seus parceiros comerciais. Logo, se a China premeditou esta crise, a China sabia que seria severamente atingida. Por que o faria então?
Além disso a China é maior detentora de títulos de divida americana. Faria sentido provocar o incumprimento de divida, quando se é o maior credor? Faria sentido querer a falência de quem lhes deve? Claro que não! Por outra lado uma fortíssima contração da economia americana levaria a uma desvalorização forte do Dólar. Por sua vez depreciaria as reservas de divisas. Ora também aqui a China é a maior detentora de divisas do mundo. Quereria também a China debilitar as reservas de tesouro? Claro que não. Está claro, que pela via da economia, a teoria da conspiração falha redondamente. Pois todos estes factos violariam o interesse da China. Seria imperdoável.

Além disso a China já mostrava arrefecimento na economia, antes da crise. Em 2019 a China reportou o menor crescimento dos últimos 29 anos(!). O PIB Chines cresceu 6,1%. Muito bom, todos dirão. Sim mas insuficiente para as dinâmicas de crescimento da China. Vejamos o seguinte. A encomia chinesa precisa de crescer dois dígitos para fazer face às expectativas e necessidades latentes que criou. E aqui, destaco dois problemas.
O primeiro tem a haver com as expectativas criadas no êxodo social de 400 milhões de pessoas, dos meios rurais para os urbanos. Este êxodo criou uma pressão social e económica significativa que só um forte crescimento pode satisfazer.
O segundo problema tem a haver com a competitividade da “fabrica do mundo”. A economia chinesa está a mudar. Assenta hoje não só nas exportações ou infraestruturas, mas no consumo interno - logo com atratividade das multinacionais americanas e outras empresas tecnológicas.

De aqui se ter iniciado já um movimento de deslocalização de produção para o Bangladexe ou Vietname. Logo a China pode estar num status quo tipo “Stuck in the middle”. Ou seja, um modelo assente em mão de obra intensiva e barata, ou então, numa aposta diferente na cadeia de valor dos produtos: mais I&D, mais promoção, design, engenharia, etc. Esta fase na transição dos modelos económicos, faz lembrar Portugal. Esta fase de transição pode ser problemática, uma vez se que se nenhum dos modelos vingar, a economia poderá ter um forte revés. Ou seja, já não ser competitiva para a produção massificada, e não o ser ainda para um portfolio de produtos com mais valor acrescentado.

Por todas as razões, mas fundamentalmente as económicas, a China jamais criaria uma bioarma que destruísse os seus concorrentes/clientes. Numa economia global, todos perderiam brutalmente, mas poderia ser a própria China a nação irremediavelmente mais nefasta com a implosão da do comercio global.

Julgo o contrário!
A China procurou resolver o difícil problema de saúde publica.
A China deu uma lição ao mundo de pragmatismo e eficácia. Isolou 60 milhões de pessoas, e na véspera do novo ano Chinês! Construiu hospitais em 10 dias. Sequenciaram o genoma do vírus em tempo record, divulgando-o imediatamente.
Obviamente o sucesso também provém do facto de ser um estado autoritário, disciplinado e musculado até! Funciona como um comando, sem contraditório. Mas a maior das lições foi a sua abertura ao mundo. Mostrou transparência quando pediu ajuda no diagnostico do vírus. Recordo que a metodologia de diagnostico do Corona vírus foi feita na Alemanha! Logo aqui uma intenção de abertura ao mundo.
É verdade, contudo, que foram as transações comerciais e mobilidade pessoas que levou à propagação do vírus. Mas também à sua prevenção. A seguir, muitos erros se cometeram por outras nações pela minimização do impacto do vírus. Não entenderam ou então minimizaram o foco que a China colocou neste vírus. Basta ler os riscos e amplitude dos mesmo: o corona vírus vitimou cerca de 4 mil pessoas, quando na China morrem 400 mil pessoas por ano devido à poluição dos grande centros urbanos.
Quem não entendeu os alertas? Quem não mitigou os riscos?
Este quid pro quo entre os dirigentes europeus e americanos de quererem usar a China como bode expiatório, não soa bem! Aqui as culpas são próprias. Sim, o vírus foi subestimado e desvalorizou-se a sua capacidade de transmissão.

Sei que a maior parte não concorda! Sei que é até polemico defendê-lo, mas a China está de parabéns pela transparência e eficácia com que atacou a crise. Nem sempre foi assim no passado, é certo, mas aprendeu a lição, e isso vale muito. Logo a pressão sobre a China deve ser outra na minha opinião. A China tem que regular e resolver o problema do mercado de animais vivos e selvagens. Deve suprimir a coabitação entre humanos e animais selvagens. É aqui que devemos ser exigentes com a China. E este debate não o constato na sociedade ou comunicação social.

A abertura da China ao mundo é inquestionável. Por um lado, pediu ajuda, por outro aboliu as tarifas alfandegarias. Ainda à poucos meses, na guerra comercial com os Estados Unidos, se disputava o seu incremento. Esta é outra prova de abertura, e intencionalidade de querer resolver o problema. E não alastra-lo!
Não existe Economia global sem a China. Nenhuma empresa terá sucesso na economia global sem a China, e vice-versa.
Todas as verdadeiras empresas globais precisam do mercado chinês. Os números impressionam. A China é um mercado de 1400 milhões de consumidores. Estima-se uma classe media de cerca de 15% população. Ora bem, 15% é todavia um numero baixo para a representatividade da classe media. Sim, mas vejamos os valores absolutos: 15% de 1400 milhões são 210 milhões de pessoas com significativo poder de compra. O total da população da Alemanha são 83 milhões.
Esta é razão: uma marca só terá sucesso na economia global com a China. Ninguém será bem sucessivo na economia global, se o foco for o próprio umbigo! A China não terá sucesso sem o resto mundo, o resto do mundo não será bem-sucedido sem a China.

Esta crise prova que pode existir globalidade numa crise de saúde publica. A economia não precisa de provas de globalidade. A teoria da conspiração pode esperar, então!

Joaquim Marques