Não há Champions que nos valha. - Por #Joaquim Marques

Autor : ana
Data : Aug 17, 2020

Tenho observado uma histeria absurda, após anúncio oficial da organização da Champions League em Portugal.

Foi despropositado o anúncio da Champions com pompa e circunstância? Sim foi.
Justificava-se uma cerimónia em belém das principais figuras do estado? Não justificava.
É correto fazer-se deste acontecimento um desígnio nacional de críticas? Não é.

Relevo que não gostei de ver toda a nomenclatura do estado inebriada numa festa de celebração. Mas sejamos justos, olhar apenas para esta forma indevida de anunciar este grande evento, e perder o foco do essencial, é como olhar para a arvore e não para a floresta.

Voltamos, por isso á massa critica do País. Esse dramático défice. Escrevem-se milhares de textos por semana. Quase todos eles em tom crítico a roçar a maledicência. Quase nenhuns a valorizar as boas noticias, ou a promover a cultura do mérito. É , infelizmente, uma prática comum criar uma polemica e depois viver dela. Esta é formula de sucesso garantida. Ganham os próprios, perdem todo os outros. Nós.

Ora, por razões obvias, tudo estava a correr bem no controlo desta pandemia. Dito de outra forma, a maior parte dos supostos fazedores de opinião andavam deprimidos. E finalmente sorriram. Finalmente matéria para escrever um texto. Pela negativa, claro está, como invariavelmente alguns só o sabem fazer.
A cerimónia (errada, reitero) de belém, e o prémio da Champions para os profissionais de saúde (frase infeliz, mesmo que descontextualizada) foi um oásis para os comentadores e analistas. Fizeram deste fato um desígnio nacional. Tanta energia perdida em vão, num mar de futilidades.

Dirão os que estão a ler, agora, o mesmo sobre este texto. Que estou a escrever e fazer o mesmo. Têm razão. Mas existe uma substancial diferença. Eu escrevo, em antítese ao unanimismo do que foi escrito.

Porquê ?

Esta é a única boa noticia ocorrida nos últimos tempos. Falou-se tanto da cerimónia de belém que todos se esqueceram do impacto do evento.
Vamos lá ver. A pergunta aqui é: qual é o maior acontecimento do planeta em 2020? aquele que vai ter mais audiências televisivas? Aquele que vai ter mais mediatismo á escala global?
A resposta é obvia: a Champions League. Logo num ano que não vai haver jogos olímpicos ou fases finais de campeonatos do mundo.
Mas então pergunto: não é esta uma oportunidade única para “vender” o País? Fazer uma campanha eficaz para passar a mensagem de um País seguro? Sim, esta é uma moção de confiança para promover um País seguro, e com capacidade de organizar eventos planetários. Sim, este é um fator de atratividade. Sim, este um fator de atração de potencial investimento. Só não vê quem não quer.

Para os que ainda não estão convencidos, deixo outro argumento. Ângela Merkel tentou ter a Champions na Alemanha, e disse-o publicamente. Tanto quis, que perdendo a Champions para Portugal não se importou mesmo assim de organizar a liga Europa na Alemanha (E não constatei nenhum “choradinho” nacional na Alemanha). Imaginem que era ao contrário? O que diriam muitos? Os mesmos que se deslumbram por tão pouco pelos eventos além fronteiras.

Então e o Turismo ?
Todos os dias se escreve que esta é a prioridade das prioridades. Pergunto, deve o País, nesta fase de desconfinamento promover uma campanha publicitaria, para promover a retoma do turismo? Julgo todos concordarem que sim. Então se sim, existirá alguma campanha melhor que a Champions ? e ainda por cima de borla? E ainda por cima com a garantia que o planeta inteiro vai assistir em direto pela televisão.
Quantos milhões custa uma promoção do País? quantas pessoas se lembram das que já foram feitas? Qual a eficácia das dezenas de vídeos já produzidos? E da Champions? Quantos se vão lembrar e linkar ao nosso País? Existirá melhor forma de promover o País? Poucas duvidas, portanto.
Note-se que este é um evento que transmite confiança. Pela capacidade organizativa que o País pode reforçar.
E com que custos financeiros? Ora, essa é outra vantagem, o investimento é nulo. Não é preciso construir estádios ou investir em acessos ou infraestruturas. E com audiências que se esperam record , pois no atual contexto de pandemia, a esmagadora maior parte das pessoa do planeta vão estar em casa.

Existe risco ? sim naturalmente. Existe sempre risco quando elevamos a fasquia. Um barco está seguro quando atracado no porto. Mas um barco não foi feito ou concebido para estar no porto. Mas sim para navegar. Para contribuir para a economia do sector . Para correr riscos, portanto.
Ora, são estes potenciais riscos que devem ser mitigados o mais possível. Por isso na Champions, é preciso controlar os adeptos que querem ver, assistir, ou estar por perto do jogo da vida da equipa deles. Mesmo que seja elaborado um elaborado plano de contingência, não significa que deva existir publico nas bancadas. Dependerá da evolução da pandemia e das recomendações da DGS. Mas pelas razões que referenciei o publico nas bancadas não é o principal retorno deste evento.

O País deve estar profundamente reconhecido aos profissionais de saúde que têm estado na linha da frente. Mas queremos ou não queremos abrir o mais possível a economia? Sim, o resto é ruido.

E neste ruido ambíguo, é a Europa que mostra mais uma vez o seu lado mais obscuro. E esta crise começa a demostrá-lo na sua variante mais escandalosa. É assustadora a hipocrisia com que estamos a ser brindados.. Agora é no desconfinamento! É representativo disso as ações de alguns estados membros . A Espanha, deixou de reportar vítimas mortais. Ou seja, esta é a via encontrada para vender um Pais seguro?! É assim que se ganha credibilidade? escondendo os números?
A Áustria definiu um ratio (20 casos por 100 mil habitantes) para determinar quem entra no País. Pois, mas a Áustria fez 600 mil testes . Portugal já fez mais de um milhão e cem mil testes!!.
Depois a Grécia. A Grécia não quer deixar entrar os Portugueses. Pois claro, também são um País de sol e Praia. Logo nada melhor que diminuir a concorrência. Este é um Marketing absolutamente intolerável . Primário.

Isto é a Europa hoje .É cada um para si. Cada um preocupado com o seu umbigo. Sejamos claros, é isto que faz da Europa uma Utopia. Vencem os egoísmos Nacionais. Logo não existe qualquer possibilidade para uma estratégia comum de atacar a crise. Se assim é na fase da pandemia, imaginemos quando o debate for sobre o dinheiro, as subvenções, a solidariedade…

A credibilidade não se ganha com inverdades ou martelando os números. A Verdade é como o azeite, virá sempre ao de cima . É verdade que baixamos a guarda e não devíamos. O surto da pandemia em Lisboa era evitável. São intoleráveis todas as festas promovidas, quer em Lisboa , no Algarve ou outro sitio. Isto deve ser atacável. Os comportamentos individuais. Não é possível colocar um polícia a vigiar cada cidadão. Por isso deixem-se de tretas. Deixem de colocar o foco no alvo errado. Vão ao essencial e deixem a espuma dos problemas para a imprensa cor de rosa. Na minha opinião a sociedade deve responsabilizar quem opina. Se nada for invertido continua a predominar a mediocridade. Senão arrepiarmos caminho continua a ganhar a demagogia e o populismo de argumentos de “tasca”. Que muitos gostam ou acham divertido, mas que atrasa o País. Não tenho duvidas que este é o maior défice do País : a ausência de massa critica em antítese á maledicência nata.

O planeta já mudou. O mundo já não é o que era. Esta pandemia, ainda está muito longe de estar resolvida. Temos como certo que induzirá numa forte contração económica, com degradação social. Mas tal como diz o povo a seguir à tempestade vem a bonança. Essa retoma poderá trazer extraordinárias oportunidades. Como uma nova economia, mais limpa, mas principalmente mais justa. Esta é a oportunidade de infletir, refletir, repensar, reconverter e reinventar. São oportunidades que farão a diferença, já quase todos interiorizaram.

Tinha esperança, por isso, que esta fosse a oportunidade de o País fundar uma nova mentalidade assente na cultura do mérito. Na inversão do seu maior défice: a massa critica . O país não aguenta mais maledicência, o País requer um pensamento critico. A valorização dos bons exemplos. Motivar os melhores. Incentivar a cultura do mérito -REPITO.
Mas não. Pelo que observo eles estão de volta .
Os arautos da desgraça.
Os fazedores de opinião incendiários.
Os ressabiados de todas as horas.
Assim não. Não há Champions que nos valha.
Talvez só uma cerca sanitária à má comunicação social colocará o País num patamar elevado de qualidade. E esse debate urge. Sugiro-o.

Joaquim Marques